terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

À tua memória

Abri os olhos. Normal, só mais um dia. Domingo, sim, isso mesmo. Não preciso de acordar tão cedo… Talvez se dormisse mais uma horita…
Não consegui. Havia uma conversa a decorrer não muito longe. Num volume mais alto do que habitualmente se chamaria “normal”. Eram os meus pais. Estavam a planear onde fazer o almoço de aniversário. Uma tradição familiar, pelo menos na minha.
Boa, vamos ao leitão.

Todos atrasados, como sempre. Não me incomoda: simplesmente é tão certo como respirar; pelo menos na maior parte da minha família.
Finalmente chegámos ao restaurante. Bastante abafado lá dentro por causas dos fornos: o que sabe bem, não posso negar; está bastante frio lá fora; é Fevereiro.
Todos se sentam à mesa, dão os parabéns ao aniversariante, entregam os seus presentes, é pedido ao empregado que guarde o bolo no frigorífico e pede-se o almoço. Num restaurante cuja especialidade é leitão pede-se… Polvo à lagareiro! Pelo menos no meu caso: não sou muito fã de leitão… Se bem que perto de Fátima há um restaurante fantástico com um leitão divinal… Bom, o resto de família satisfaz-se com leitão.

Depois do empregado muito prestável nos trazer o bolo, cantamos os parabéns, distribuímos beijinhos e amor por todo o lado, comemos o bolo, paga-se a conta – verdade seja dita, calha sempre ao mesmo – e bazamos.

Isto realmente é um dia normal para mim… Bem, pelo menos quando há aniversários. Ir para um restaurante cantar os parabéns para ninguém seria bizarro.

Por isso mesmo deve ser compreensível o meu susto quando acordo e me lembro que é 14 de Fevereiro de 2010. O meu susto quando me apercebo que aquela realidade, aquele aniversário nunca aconteceu realmente. O meu susto quando me apercebo que este é um daqueles sonhos já catalogados de: “nunca irão acontecer”.
No final de tudo, só há mesmo uma coisa a acrescentar:

Feliz 87º aniversário que nunca vais poder comemorar, avô.

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